El nacimiento del Grande Oriente Lusitano: Hipólito José da Costa

Este trabajo ofrecido fraternalmente por el Prof. Manuel Pinto dos Santos. Hipólito José da Costa. Uma Vida dedicada à Maçonaria, Grémio Lusitano, 2014, 68 p. quiere ser, además de portador del conocimiento contenido en éste, un reconocimiento al gran masón y amigo, el QH Luis Cardoso, gran investigador y de una generosidad infinita para con sus colegas y Hermanos de estudio masonológico que prematuramente pasó al Oriente eterno dejándonos en un estado de profunda consternación y duelo. Pero con el paso del tiempo, Luis permanece entre nosotros cada vez que nos adentramos en la historia de la francmasonería portuguesa donde él con su ejemplo ocupa un lugar de honor y privilegio. Gracias Q.·. H.·. Luis.

El Trabajo, tras mis diversas consultas al M.·. Il.·. H.·. Cardoso, Manuel Pinto dos Santos me lo hace llegar a través de él en un derroche también de fraterna colaboración académica. Y este es el trabajo que publico en su versión original y en la lengua en la que fue escrito. Una joya masonológica  para los amantes del estudio de la historia en nuestra Orden.

MQI Luis Cardoso

Envio-te o texto que escrevi sobre o Hipólito, na parte que diz respeito ao tratado, sem prejuízo de te enviar o exemplar prometido e que só está à venda no Museu Maçónico Português, no GOL.

Como podes ver, o documento original estava no processo nº 16809 de Joaquim José Vieira Couto, - que também tenho transcrito na sua íntegra, com notas e comentários - a fls. 27, mas que desapareceu do ANTTombo, Só resta a cópia notarial que transcrevo aqui e que se encontra a fls. 206. do processo 17981 do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa contra Hipólito José da Costa

Boa leitura, e se quiseres divulgar estás à vontade, desde que cites a origem: Manuel Pinto dos Santos. Hipólito José da Costa. Uma Vida dedicada à Maçonaria, Grémio Lusitano, 2014, 68 p.

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“Ligado à instituição maçónica portuguesa, o nome de Hipólito – que tinha o nome simbólico de Aristides - aparece no quadro do Capítulo dos Cavaleiros da Espada ou do Oriente de Lisboa1, fundado aparentemente em 1802, sendo seu secretário o próprio Hipólito. Todavia, ignora-se a que loja simbólica pertencia.

Terá sido nesta loja capitular que se engendraram os passos seguintes destinados à unificação das lojas maçónicas sob uma mesma

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1 A.H. de Oliveira Marques, História da Maçonaria em Portugal, volume I, Das Origens ao Triunfo, Editoria Presença, Lisboa, 1990, p. 166-67.


obediência, quer porque a Loja Cavaleiros da Espada2, denominada pela inquisição de Supremo Conselho, tinha passado uma procuração a favor de Hipólito3 quer porque Hipólito escreveu duas cartas datadas de 27.04.1802 e de 04.05.1802 para esta loja capitular4, antes de ser concretizado o tratado com a Grand Lodge of England.

Estrategicamente, uma aliança com a maçonaria de Inglaterra - velha aliada e protectora da Coroa portuguesa, além de ser um parceiro económico – parecia mais interessar aos maçons portugueses do que uma aliança com a maçonaria francesa, à qual se atribuía tendências revolucionárias, jacobinas, destruidoras da monarquia e do altar. O Duque de Sussex, enquanto irmão de George, regente desde 1810 e futuro rei George IV de Inglaterra a partir de 1820, protector da maçonaria da Grand Lodge of England desde 1791, surgia como uma excelente carta no jogo da regularização e do apoio dos maçons portugueses.

Consequentemente, o Duque de Sussex veio na realidade, a intermediar o contacto entre maçons portugueses e a Grand Lodge of England, no sentido de receberem representantes da maçonaria portuguesa.

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2Este Capítulo dos Cavaleiros do Oriente, também designado por Supremo Conselho dos Cavaleiros da Espada Lusitano, era constituído por membros detentores do 11º grau (Cavaleiro do Oriente) do rito adoniramita, proveniente de França. O rito francês ou moderno, tinha igualmente o grau 6º, ou 3ª ordem (Cavaleiro do Oriente) mas a documentação aponta para uma loja capitular composta por maçons do rito adoniramita, mais divulgado em Portugal na época do que o rito francês ou moderno.

3Processo da Inquisição de Hipólito José da Costa, a fls. 203vº-204. O original constava do mesmo processo a fls. 64.

4 Processo da Inquisição de Hipólito José da Costa, sessão de interrogatório de 12.09.1803, p. 186.


O facto de, em Abril de 1802, Hipólito ir desempenhar certas tarefas em Londres5, por incumbência do ministro Sousa Coutinho – aquisição de livros para a Real Biblioteca, bem como material e máquinas para a Imprensa Régia, aliado ao facto de Hipólito se encarregar nessa altura de contactos com a Grand Lodge of England, permitiu a Pina Manique que pudesse actuar não só contra Hipólito, mas principalmente contra Sousa Coutinho, a fim de o desacreditar como maçon junto da Coroa através da difusão do boato que o primeiro teria ido a Londres a mandado do Ministro, boato que desagradou a este.

Para a intendência da polícia, Sousa Coutinho já teria sido identificado como maçon de tendência jacobina, segundo a marquesa de Alorna6, o que era falso.

Em Londres, Hipólito além de frequentar lojas maçónicas durante a sua estadia – o que negou perante a Inquisição -, fomentou o estabelecimento de relações maçónicas com a Grand Lodge of England, procurando obter o reconhecimento das lojas portuguesas que viviam na clandestinidade junto desta.


5 No interrogatório da Inquisição prestado em 04.02.1803, Hipólito responde “que pelo tempo do entrudo, ou princípios da Quaresma do ano pretérito de1802 fiz uma viagem a Londres por interesses próprios, e daquela Corte passara à de Paris pelos Países Baixos Franceses e se recolheu pela Normandia a Londres e desta a Portugal, onde chegou no mês de Julho passado, puco mais ou menos”, fls. 147vº e 148. Não houve esclarecimentos sobre quais eram os “interesses próprios”.

6A Marquesa de Alorna, num rascunho de uma carta não datada que pretendia dirigir ao Príncipe Regente apontava que “os dois fogos em que V. A. R. se vê, entre França e Inglaterra, assaz lhe manifestam se ganhou mais em seguir a política frouxa desse triunvirato que envileceu e arruinou Portugal...”carta esta que foi apreendida pela polícia do Intendente Pina Manique. A Marquesa referia-se a D. Rodrigo de Sousa Coutinho, Luís Pinto de Sousa Coutinho e D. João Manuel de Melo e Castro, os quais identifica como “Franc-mações” da tendência jacobina francesa, que ela pretendia combater, mais propriamente na pessoa de Napoleão Bonaparte. In Marquesa de Alorna, Inéditos, Cartas e Outros Escritos, selecção, prefácio e notas do Prof. Hernâni Cidade, Livraria Sá da Costa, Editora, Lisboa, 1941, p. 179.


Efectivamente, na sua missão a Londres no primeiro semestre de 1802, Hipólito apresentou-se como o representante de quatro lojas em Portugal, em busca de uma carta patente inglesa para poder formar uma obediência em Portugal. Que lojas eram estas ? Em 1802 de acordo com os registos da Inquisição7 havia seis lojas em Lisboa: União8, Virtude9, Fortaleza10, Concórdia11, Amizade12 e Razão13. As lojas que pediram a adesão à Grande Loja de Inglaterra foram a União, a Concórdia, a Razão e a Virtude, constituídas aproximadamente entre 1798 e 1801, sendo certo que estas lojas que Hipólito representaria, integrariam o modelo britânico e jamais o jacobino ou afrancesado.

Cronologicamente, e segundo as conclusões do processo da inquisição, Hipólito terá chegado a Londres a 27.03.1802 e “logo nos dias


7 Processo da Inquisição de Hipólito José da Costa, sessão de interrogatório de 12.09.1803, fls. 189 e 204.

8 A loja União nº 1 de Lisboa, terá sido formada por volta de 1798, sendo conhecidos três membros.

9 Trata-se da Loja Virtude (II) em Lisboa presumivelmente fundada em 1798 e que suspendeu os trabalhos em 1808, retomando-os um ano depois. Do quadro desta loja foi admitida em 1814 a Condessa de Juromenha, amante do General Beresford, a primeira mulher a ser admitida na maçonaria portuguesa.

10 Presume-se que a data de fundação da loja Fortaleza foi cerca de 1800 e terá trabalhado até 1808. Ao quadro pertenceram o poeta Bocage, José Liberato Freire de Carvalho, com o nome simbólico de Spartacus, e José Fragoso Wanzeller que seria Grão-mestre do GOL em 1810, tendo ambos ajudado Hipólito na sua fuga da prisão. A proximidade destes poderá sugerir, como mera hipótese, que Hipólito terá ingressado nesta loja, quando regressou da América.

11 Fundada em 1801 a loja Concórdia trabalhou até 1808, retomando os trabalhos até 1817. Conhecem-se poucos membros.

12 Fundada presumivelmente em 1801, trabalhou até 1808, retomando por várias vezes os trabalhos até 1817, quando se extinguiu. Tinha várias dezenas de membros.

13 Presume-se a sua fundação em 1801, mas a loja Razão trabalhou até 1803.


30 e 31 do mesmo e dias 3, 5 e seg.tes de Abril começara... a tratar eficaz.te a Comissão em Maçónica em Inglez e Cifra14.

As negociações com a Grand Lodge of London terminariam em 18.05.1802, data em que foi firmado o acordo a seguir transcrito:

[1802 - Acordo entre a Grand Lodge of England (Moderns) e quatro lojas de Portugal] 15

A Todos e cada hum dos nossos Venerabilíssimos e amados I.·..


Nós Francisco Rawdon Hastings16, Conde de Moira, etc., etc. Lugar Tenente do G.·.=M.·.= debaixo da Autoridade de S.·.A.·.R.·., Jorge Príncipe de Gales, etc., etc., etc. = G.·.M.·. da muito Antiga e Honrada Sociedade dos Livres, e Aceitos M.·.= Saúde = Tendo-se Representado a Suprema G.·.= L.·. dos Livres e Aceitos M.·. de Inglaterra, pelo muito respeitável I.·. Hipólito José da Costa que quatro lojas regulares dos Livres e Aceitos M.·. em Portugal, a saber a L.·. da União.·., a L.·. da Concórdia, a L.·. da Razão e a L.·. da Virtude tinham eleito Representantes para estabelecer em Portugal uma G.·. L.·. Nacional e para abrir comunicação com as outras G.·. L.·., e que achando-se os ditos Representantes, que formão um Maçónico Governo Provisional em nome das ditas L.·., desejosos de comunicar as suas louváveis intenções à Suprema


14 Processo de Hipólito José da Costa, fl. 204vº.

15 Extraído do processo da Inquisição 16.809 contra José Joaquim Vieira Couto, fl.

27. Trata-se de uma cópia certificada por Manuel de Figueiredo Ribeiro Martins, Notário do Santo Oficio da Inquisição. Sobre as siglas no documento segue o seu esclarecimento: I.·.- Irmãos; G.·.M.·.- Grão-Mestre; S.·.A.·.R.·.- Sua Alteza Real; ;G.·. L.·.- Grande Loja; M.·.- Maçons; L.·. - Loja; G.·. - Grande; AL.·.- Anno Lucis [Ano da Luz] AD.·. Anno Domini [Ano do Senhor].

 

16 Francis Rawdon-Hastings, (1754 - 1826) 1º Marquês de Hastings, Conde de Moira, militar e político britânico, Governador-Geral da Índia (1813- 1823). Representou o Grão mestre da Grande Loja de Inglaterra (corrente dos “Modernos”) entre 1790 e 1812.



G.·. L.·. de Inglaterra, e de estabelecer uma amigável e Maçónica Comunicação com a sobredita G.·. L.·., para isso elegeram, e mandaram a Londres dpropósito, para este fim ao dito mui Respeitável I.·. como seu Plenipotenciário, o qual tendo comunicado os seus plenos Poderes aos Principais Oficiais da G.·. L.·.; e sendo estes Poderes fundados em boas e amplas formas, foi Reconhecido e Recebido como tal. E Sua Alteza Real, Jorge, Príncipe de Gales Venerabilíssimo G.·.M.·. e o muito honrado Francisco Conde de Moira; lugar Tenente do G.·. M.·. tendo aprovado a proposta do dito Governo Provisional dos M.·. Portugueses tendente a uma fraternal e Maçónica comunicação com a  G.·. L.·. e com o resto dos seus Grandes Oficiais, e Membros, sendo todos eles juntos em Sessão de G.·. L.·. aos doze de Maio corrente e tendo dado o seu inteiro consentimento à dita Proposta Fazem saber que a Suprema G.·. L.·. de Inglaterra, situada em Londres, influída por princípios puramente Maçónicos, e benéficos e desejosa de animar e de promover a disseminação da antiga Maçonaria, para beneficio e felicidade do Género humano, e querendo deferir à Súplica do Provisional Governo Maçónico das L de Portugal comunicada pelo dito seu Plenipotenciário em demonstração de especial favor, e de Fraternal Benevolência, se acordou em receber qualquer Respeitável e acreditado I.·., como Representante das L.·.  de Portugal na G.·.  L.·. de Inglaterra, e igualmente em declarar que qualquer I.·. das L.·. de Portugal tem direito de visitar as L.·. Inglesas, conforme as particulares Leis existentes em cada uma, e finalmente em conceder socorro pecuniário a qualquer I.·. de bons costumes, que se achar em aflição, e que pertencer a qualquer das L.·. Portuguesas, conforme as circunstâncias, e situação, e qualidade da pessoa. E a G.·. L.·. de Inglaterra convém do mesmo modo em dar o seu melhor Parecer ao Provisório Governo Maçónico das L.·. em Portugal para que estabeleçam uma G.·.L.·. Nacional sobre os verdadeiros princípios da antiga Maçonaria = Dada em Londres, debaixo do nosso G.·. Selo da Maçonaria a dezoito de Maio AL.·. 5803 AD.·. 1802 = Por Ordem do Grão-Mestre = Pedro Parker17 Deputado Grão Mestre = Testemunha Guilherme White = Grande Secretario.

17 Peter Parker era Almirante da Armada inglesa que tinha sido nomeado Deputado do


Não restam dúvidas que em 1802 foi estabelecido um acordo regular entre a incipiente obediência portuguesa e a poderosíssima Grand Lodge of England, e que este tratado constituiria o fundamento, as bases, da futura Grande Loja de Portugal.

Aliás, os testemunhos coetâneos apontam nesse sentido. William Preston18, foi contemporâneo dos acontecimentos e registou-os nas suas Illustrations of Masonry:


“Na Grande Loja de Maio seguinte [1802], outra aplicação foi feita, através do mesmo canal19, a partir de quatro lojas em Portugal, que tinham dado poderes ao Sr. Hipólito José da Costa para actuar como seu representante junto da Grande Loja de Inglaterra, e em seu nome solicitar a autoridade regular para praticar os ritos da Ordem sob a bandeira inglesa e sua protecção. Após ponderada deliberação, foi determinado que

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Grão Mestre (Deputy Grand Master) George, Príncipe de Gales em Novembro de 1786. Após a sua morte em 11.12.1811, foi nomeado para o cargo de Representante do Grão-mestre (Acting Grand Master), o irmão do príncipe de Gales, Augustus Frederick, Duque de Sussex, que seria eleito Grão-mestre quando o George se tornou Regente do reino.

18 William Preston (Edinburgh, 07.08.1742-Londres, 01.04.1818). Admitido na maçonaria por volta de 1763, no ano seguinte forma em 15.11.1764 Caledonian Lodge nº 325 sob a tendência dos “Modernos” da Grand Lodge of England, loja que influiu muito no aparecimento no primeiro Grand Chapter of Royal Arch [Grande Capítulo do Arco Real]. Investigador da história da maçonaria e das suas raízes junto da Grand Lodge of Scotland e da Ancient Grand Lodge, Preston compilou matérias sobre os três graus simbólicos. Devido a um desentendimento, foi expulso da Grand Lodge of England em 1779, formando a Grand Lodge of All England South of the River Trent, que funcionou até 1789, ano em que regressou à Grand Lodge of England. O seu legado encontra-se principalmente na sua obra Illustrations of Masonry um dos maiores e melhores repositórios da história da maçonaria.

19 A Grande Loja tinha reunido anteriormente em Fevereiro de 1802, na qual as lojas em Berlim, sob os auspícios do rei da Prússia, a fim de estabelecerem relações com a Grande Loja de Inglaterra, tinham pedido a influência do Duque de Sussex, [the lodges in Berlin... had solicited the influence of the Duke of Sussex to carry a friendly communication with the Grand Lodge of England] o qual tinha estado na Alemanha em Göttingen, a estudar desde 1786. Vd.William Preston (1742-1818), Illustrations of Masonry, 12º ed. on-line, London, p. 176.


todo o encorajamento devia ser dado aos irmãos em Portugal, e um tratado foi imediatamente estabelecido e assinado pelos irmãos Da Costa e Heseltine20, e depois pelo Grande Tesoureiro da Grande Loja, e aprovado pelo Grão-Mestre representado pelo Conde de Moira21; pelo qual ficou acordado que, desde que as lojas portuguesas se conformassem com as antigas constituições da Ordem, seriam concedidos todos os poderes para terem um representante na Grande Loja de Inglaterra, e que a Grande Loja de Inglaterra teria um representante na Grande Loja de Portugal, e que os irmãos pertencentes a cada Grande Loja seriam igualmente titulares nos privilégios da outra”22.

Trata-se de um depoimento importantíssimo porquanto é a prova cabal da presença de Hipólito junto da obediência inglesa e de que foi

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20 Pensávamos que se tratava de James Heseltine, Grande Secretário da Grand Lodge of England, mas dado que este morreu em 1793, deverá tratar-se de alguém com o mesmo nome, provavelmente o seu filho, James Altham Heseltine (1777-?). Provavelmente é um lapso ou confusão de memória, pois o Grande Secretário em 1801 era William White o qual não é mencionado por William Preston. Vd. William James Hughan, Memorials of the Masonic Union of A.D. 1813…; London, Chatto and Windus, Picadilly…, 1874, p. 10.

Não se conhece o tratado original que certamente foi enviado para ao Brasil, ao futuro rei D. João VI, de acordo com a deliberação da Mesa da Inquisição no processo de Hipólito (fl. 205), sendo enviados cerca de 130 fólios correspondentes a documentos confiscados a Hipólito quando foi detido.

Todavia, o documento do acordo elaborado a 18.05.1802, na sequência da reunião da Grande Loja em 12 desse mês, dá como signatário Peter Parker deputado do Grão- mestre e não o conde de Moira, sendo o acto testemunhado por William White, Grande Secretário, o que não permite concluir a existência de qualquer contradição, uma vez que se tratam de documentos diferentes.

21 Francis Edward Rawdon-Hastings, 1º Marquês de Hastings (1754 – 1826), conhecido como Conde de Moira entre 1793 e 1816. Actuava como Grão-Mestre, o qual era na realidade o Príncipe de Gales, o futuro rei George IV que governou de 1820 a 1830. Esta figura do Acting Grand Master não se pode confundir com o Deputy Grand Master (Grão-mestre Adjunto), pois o primeiro tem a ver mais com a pessoa, enquanto o segundo se relaciona com a função.

22 William Preston (1742-1818), Illustrations of Masonry, 12º ed. on-line, London, p. 177.


feito o reconhecimento da maçonaria portuguesa sob os auspícios da Grande Loja de Inglaterra em 1802. E foi ele o executor desse grande passo.

Seria de esperar que a maçonaria contactada fosse, de acordo com os padrões da sua admissão em Filadélfia, a tradicional e conservadora Grand Lodge of All England, da tendência dos “Antigos”. Mas tal não aconteceu. Hipólito contactou a Grand Lodge of England, dos “Modernos”, não havendo qualquer dúvida, na medida em que o Conde de Moira, e Heseltine pertenciam à maçonaria dos “Modernos”. Se bem que Hipólito fosse da maçonaria “Antiga” da Pensilvânia, a verdade é que o único “canal” de que os maçons portugueses se serviram para aceder à maçonaria inglesa, fosse ela a dos “Antigos” ou a dos “Modernos” foi, indubitavelmente, o Duque de Sussex, que se encontrava em Portugal desde 1801.

Será que a incumbência das quatro lojas tinha como missão específica o contacto com a corrente dos “Modernos” ? É desconhecido o tipo de lojas que eram, ignorando-se se tinham preferência pelas Constituições de Anderson, ou pelo Ahiman Rezon. No contexto político da época, no rescaldo da Guerra das Laranjas entre Portugal e a Espanha em Janeiro de 1801, que não passou de um episódio do jogo de influências e de poder entre a França e Inglaterra, surgia como mais conveniente e interessante aos maçons portugueses – pelo menos ao sector aparentemente maioritário da maçonaria activa - estarem aliados a uma obediência que tinha o príncipe de Gales, futuro rei, como Grão-Mestre do que se ligarem ao escocês John Murray, 4º Duque de Atholl, grão-mestre dos “Antigos” de 1791 a 1812, o qual não detinha peso político.


Aliás, em 1802 as relações entre as duas correntes estavam ao rubro, pois no ano anterior, em Novembro de 1801 tinha sido deliberada a exclusão das lojas dos “antigos” que permaneciam do seio da Grand Lodge of England, ou seja as que praticavam o rito de York. E em 09.02.1803 foi dada a machadada final, decidindo-se a expulsão dos maçons do rito antigo da Grand Lodge of England23.

O que se pode concluir é que o tratado então escrito e aprovado pelo Conde de Moira, em representação do Grão-mestre, pertencia à maçonaria “moderna”24, defensora das ideias liberais, de uma abertura da maçonaria a todos os que a ela quisessem aderir sem diferenciação de credo religioso ou político, em oposição do que defendiam os “Antigos”, defensores de um certo cristianismo, redutor da universalidade maçónica.

Apesar do esforço de Hipólito, na prática não foi o modelo maçónico inglês que vingou: em primeiro lugar, nos anos de 1802 e 1803 recrudesceu a perseguição aos maçons portugueses pela inquisição; depois não houve qualquer apoio da Grand Lodge of England no que

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23 Acta Latomorum, ou Chronologie de l´ Histoire de La Franco-Maçonerie française et étrangere, Tomo I, Paris, Imprimerie de Nouzou, 1815, de Claude-Antoine Thory, p. 206 e 213, respectivamente.

24 O mesmo é corroborado pelas Acta Latomorum, ou Chronologie de l´ Histoire de La Franco-Maçonerie française et étrangere, Tomo I, Paris, Imprimerie de Nouzou, 1815,

p. 211, de Claude-Antoine Thory, que contém a seguinte referência sobre a Grand Lodge of England dos “Modernos”: Maio 1802- “Quatro lojas de Portugal fazem um pedido semelhante [ao das lojas de Berlim] e solicitam à Grande Loja a autorização para professar os Ritos de Inglaterra sob a sua protecção. Os Irmãos acedem a este pedido e a concordata é resolvida imediatamente”.

Seguindo Oliveira Marques, defende o contrário João José Alves Dias em “Hipólito e o seu Tempo: A Maçonaria em Portugal de 1727 a 1802”, em Almanaque Hipólito, 01/07/2003, publicado on-line: “Em maio do mesmo ano [1802] a Grande Loja de Inglaterra (a dos “Antigos”) reconheceu a estrutura maçónica então existente em Portugal como Obediência à sua semelhança [Grand Lodge of Portugal]”, não apontando qualquer fonte para a afirmação relativa aos “Antigos”.


respeita à formação e desenvolvimento de uma Grande Loja Nacional de Portugal; por último, abriram-se novas hipóteses maçónicas”.

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Joaquim Villalta, Vª Orden, Gr.·. 9, 33º
M.·. I.·.
Director de la Academia Internacional de la Vª Orden - UMURM
Gran Orador del Sublime Consejo del Rito Moderno para el Ecuador
Miembro Honorario del Soberano Grande Capítulo de Cavaleiros Rosa-Cruz de Portugal - Gran Capítulo General del Rito Moderno y Francés de Portugal
Miembro Honorario de la R.·. L.·. Estrela do Norte nº 553 del Grande Oriente Lusitano
Gran Canciller para Europa del Gran Oriente Nacional Colombiano
Miembro Honorario del Soberano Supremo Consejo del Grado 33 para el Escocismo de la República del Ecuador
Miembro Honorario del Supremo Consiglio del 33º ed Ultimo Grado del R.S.A.A. per l’Italia e sue Dipendenze
Miembro del Suprême Conseil du 33e Degré pour la France du Rite Ancien et Accepté (Cerneau's Rite)
Pasado Presidente de la Confederación Internacional de Supremos Consejos del Grado 33º del R.·. E.·. A.·. A.·.
Muy Poderoso Soberano Gran Comendador del Supremo Consejo del Grado 33º para España del Rito Antiguo y Aceptado (Rite de Cerneau)
Gran Comendador del Soberano Gran Consejo de los Príncipes del Real Secreto de España, Rito de Perfección.

Masonólogo